22 de fevereiro de 2010

Reforma do Casarão

Reforma do Casarão
Imóvel construído na década de 1930 será revitalizado e transformado em espaço cultural
Símbolo de resistência e guarida para toda uma geração de artistas, intelectuais e boêmios, “O Casarão” será agora revitalizado e transformado em espaço cultural para os acreanos.

Duas mulheres foram fundamentais para o processo de resgate. A então deputada estadual Naluh Gouveia (PT), autora do requerimento para o tombamento do Casarão como patrimônio histórico (Lei nº 12 de 2007), e a deputada federal Perpétua Almeida (PC do B), que alocou uma emenda no valor de R$ 300 mil que garante o início da reforma.

A casa, construída por Abdon Massari na década de 1930, com característica arquitetônica sírio-libanesa, serviu de residência para o governador do território do Acre, Fontenelle de Castro. Na década de 80, transformou-se no restaurante “O Casarão”, por iniciativa do jornalista Elson Martins, Pedro Vicente e Miguel Ortiz.

Começaram então as inovações. A primeira mulher a trabalhar como garçonete em Rio Branco foi contratada no restaurante que trouxe a comida típica do Acre e os pratos naturais para o cardápio.

Símbolo da efervescência política e cultural, o Casarão abrigou todas as correntes de pensamento, estimulando as discussões e a reflexão, ao permitir a apresentação de peças teatrais, músicos e leilões de obras de arte. Dessa forma serviu de espaço de trabalho para artistas e artesãos.
Nele mostraram sua arte Helói de Castro, Sérgio Patchouli, Tião Natureza e João Veras. Poetas como Naylor George venderam seus livros e estimularam artistas plásticos Dalmir Ferreira e João Mayara (pseudônimo de Jorge Carlos). Esse último está há mais de dez anos na Europa, onde faz sucesso com a pintura a base de café.

“O Casarão era a nossa galeria de artes, de todas as artes. Era lá que o artista, acreano ou não, mostrava seu trabalho. Lembro das pessoas comendo com os artistas circulando entre as mesas vendendo seus livros, quadros, camisetas e colares, enquanto outros dançavam e outros ainda discutiam política estadual, nacional e internacional em busca de soluções para os problemas. Quem tinha dinheiro pagava para os que não tinham. Quem tinha carro os outros. Foi uma época maravilhosa da qual O Casarão foi o símbolo”, lembra Abrahim Farhat, freqeentador assíduo.
O local foi frequentado também pelo líder sindical Chico Mendes e pelos fundadores do PV, Nazaré e Dote, além de índios de várias etnias, O Casarão foi tema de trabalho na Unicamp. Nele figuram com destaque os artistas Dinho Gonçalves, Ivan de Castela, Rogério Curtura, Alexandre Nunes e Antonio Alcântara, que formavam o grupo teatral Direto do Rio e se apresentava todas as sextas-feiras.

No trabalho acadêmico, o autor Elderson Melo compara o trabalho do grupo teatral acreano ao Teatro do Oprimido de Augusto Boal. “O Casarão foi importante na formação de toda uma geração que depois pôs em prática o que foi discutido e mudou os rumos do Estado do Acre”, destaca a deputada Perpétua Almeida.

Segundo ela, o local faz parte da memória social do povo e tem que ser preservada. “Isso não tem preço. Por isso estou satisfeita em participar ativamente do processo de resgate e preservação através do dinheiro da emenda que destinei para esse fim. Além do mais, o processo está sob a responsabilidade da Fundação Elias Mansour, o que significa que está em boas mãos.”

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