31 de janeiro de 2011

Feliz aniversário Félix Cavalcante








Feliz aniversário

Um momento especial de renovação para sua alma e seu espírito, porque Deus, na sua infinita sabedoria, deu à natureza, a capacidade de desabrochar a cada nova estação e a nós capacidade de recomeçar a cada ano.
Desejo a você, um ano cheio de amor e de alegrias.
Afinal fazer aniversário é ter a chance de fazer novos amigos, ajudar mais pessoas, aprender e ensinar novas lições, vivenciar outras dores e suportar velhos problemas.
Sorrir novos motivos e chorar outros, porque, amar o próximo é dar mais amparo, rezar mais preces e agradecer mais vezes.
Fazer Aniversário é amadurecer um pouco mais e olhar a vida como uma dádiva de Deus.
É ser grato, reconhecido, forte, destemido.
É ser rima, é ser verso, é ver Deus no universo;
Parabéns a você nesse dia tão grandioso.

23 de janeiro de 2011

Plínio Marcos


Plínio Marcos de Barros nasceu em Santos/SP no dia 29 de setembro de 1935. Depois de passar por diversas profissões (aprendiz de encanador, funileiro, vendedor de livors espírita, estivador, etc) ingressa num circo atuando como palhaço, humorista e dirigindo alguns shows. Em 1953 percorria o interior paulista com a Cia Santista de Teatro de Variedades.

Em 1958 começa a trabalhar como ator de teatro na companhia da Patrícia Galvão, a Pagu. No mesmo ano escreve sua primeira peça: Barrela. A peça foi inspirada numa notícia de jornal que relatava o caso de um garoto que havia sido currado na prisão e, depois que foi solto, matou os estrupadores. A peça foi censurada por ser considerada pornográfica. O texto foi liberado para uma apresentação no dia 1º de novembro de 1959, no palco do Centro Português de Santos, e depois ficou proibido pela Censura Federal por vinte e um anos.

Sua peça seguinte, Os Fantoches, foi um fiasco. No dia seguinte ao da apresentação, a Pagu, que na época fazia crítica teatral para o jornal A Tribuna de Santos, colocou uma foto do Plínio Marcos com a manchete 'Esse analfabeto esperava outro milagre de circo'.

Mudou-se para São Paulo no ano de 1960. Para se manter, trabalhava como camelô. Nessa época trabalhou na Companhia de teatro da Jane Hegenberg e depois foi aprovado para entrar na Companhia Cacilda Becker. Chegou a trabalhar em duas peças ao mesmo tempo: fazia o primeiro ato de César e Cleópatra, na Companhia da cacilda, e entrava em O Noviço, no Teatro Arena, no último ato. Em 63 começa a escrever para o programa TV de Vanguarda, da TV Tupi.

Em 65, Plínio, juntamente com um grupo de teatro que estava começando, tentou encenar Reportagem de um Tempo Mau no Teatro de Arena. A censura proibiu. Nessa época tentou também encenar a peça Jornada de um Imbecil até o Entendimento, que também foi censurada.

Depois disso escreveu Dois Perdidos em uma Noite Suja inspirada no conto O Terror de Roma, de Moravia. A peça estreou no Ponto de Encontro, um bar da Galeria metrópole. Cinco pessoas assistiram á estréia: a Walderez, o Carlos Murtinho, a mulher do Ademir, um bêbado, que não quis sair porque aquilo lá era um bar, e o Roberto Freire. A Cacilda Becker, quando viu a peça, comentou: Incrível! Você conhece dez palavras e dez palavrões, e escreveu uma peça genial. Nessa mesma época apareceram as peças Navalha na Carne, Quando as Máquinas Param e Homens de Papel. Segundo o próprio Plínio Marcos, "Dois Perdidos foi liberada porque naqueles dias a Censura passou da Polícia Estadual para Federal. E mudaram os censores. Mandaram o Coelho Neto assistir ao ensaio. Homem de teatro, diretor de peças. Foi da comissão julgadora do Festival de Santos, quando a Barrela se consagrou. Numa tarde de sábado, chuvosa e fria, num estúdio abandonado da Tupi, sem cenário, eu e o Ademir, sentados em bancos velhos, falamos o texto pra ele. Quando acabamos, ele liberou o texto sem cortes."

A peça Navalha na Carne foi mais difícil de ser liberada. A peça já estava sendo ensaiada quando veio a proibição da censura. A peça só foi leberada depois de "uma batalha imensa que começou com uma apresentação na casa de Cacilda Becker". Começou então uma campanha nacional pela liberação da peça.

Durante os últimos anos da década de 60 e os primeiros da década de 70, Plínio Marcos foi preso duas vezes e detido para interrogatório em diversas ocasiões. Nessa época todas as suas peças estavam censuradas. Mesmo Dois Perdidos Numa Noite Suja e Navalha na Carne, que já haviam sido apresentadas em diversas regiões do país, foram interditadas em todo o território nacional.

"Eu, há dezessete anos, sou um dramaturgo. Há dezessete anos pago o preço de nunca escrever para agradar os poderosos. Há dezessete anos tenho minha peça de estréia [Barrela] proibida. A solidão, a miséria, nada me abateu, nem me desviou do meu caminho de crítico da sociedade, de repórter incômodo e até provocador. Eu estou no campo. Não corro. Não saio. E pago qualquer preço pela pátria do meu povo." (1973)

Por não poder encenar suas peças, Plínio começa a escrever obras não-teatrais. O Querô, romance publicado em 1976, ganhou o Prêmio APCA de melhor romance desse ano. Dentro da Noite e A Barra do Catimbó, eram novelas escritas para a televisão que foram proibidas. Nas Quebradas do Mundaréu é uma coletânea das suas colunas escritas para o jornal Última Hora.

A peça O Abajur Lilás, escrita em 69, seria liberada da censura no ano de 1975. Nesse ano iniciaram-se os ensaios da peça com Lima Duarte, Walderez de Barros, Cacilda Lanuza, Ariclê Perez no elenco. Estava tudo pronto (cenário, figurino, iluminação) e a censura proibiu.

No dizer de Ilka Maria Zanotto, "As circunstâncias fizeram de O Abajur Lilás mais do que uma simples peça, uma bandeira." A classe teatral organizou várias manifestações de protesto contra a censura da peça, e grande parte das companhias teatrais não trabalhou, na quinta-feira, dia 15 de maio de 1975, data da proibição da peça. E durante as semanas seguintes, era lido um manifesto contra a censura, em todos os teatros, antes do início dos espetáculos. O advogado Iberê Bandeira de Melo, amigo de infância de Plínio Marcos, entrou com um recurso contra a Censura. O próprio Ministro da Justiça, Armando Falcão, reiterou a proibição da peça, sob a alegação de que ela atentava contra a moral e os bons costumes. O Dr. Iberê e Plínio Marcos continuaram com a luta e foram, de instância em instância, até chegarem ao Supremo Tribunal Federal.

Em 1978 a Polícia Federal determina o recolhimento do livro "Abajur Lilás". Uma ano depois, as peças Barrela e O Abajur Lilás foram liberadas pela Censura Federal.

A partir da década de 80, intensifica uma atividade que já vinha exercendo: fazer debates e palestras em faculdades e universidades, teatros, clubes e, até, em praça pública, não só na cidade de São Paulo, mas em inúmeras cidades do interior do mesmo Estado e do Brasil todo.

Em 1984, estréia um espetáculo-solo no Teatro Eugênio Kusnet (ex-Arena): O Palhaço Repete seu Discurso, com o qual também se apresentaria em inúmeras cidades. Por muitos anos continuou fazendo palestras-shows para estudantes, muitas vezes acompanhado de seu filho Léo Lama, como num espetáculo que fizeram, em 1993: 40 Anos de Luta.

No começo da década de 90, criou um curso: O Uso Mágico da Palavra. E dava oficinas em vários lugares, continuando com sua tradição de mambembeiro e camelô, porque nunca deixou de vender seus livros.

Em 1985 é internado no Incor por causa de um infarto. Nesse mesmo ano ganha os prêmios Molière e Mambembe por "Madame Blavatsky".

Em 1993 ganha o Prêmio Shell por "Querô, uma Reportagem Maldita".

Em 1998 recebe o título de Cidadão Emérito da Câmara Municipal de Santos.

Plínio Marcos morreu no dia 19 de novembro de 1999, depois de uma internação de 27 dias no Instituto do Coração, em São Paulo.

2 de janeiro de 2011

Teatro: "Minha Mãe é Uma Peça"

Nelson Rodrigues


Nascido na capital pernambucana e quinto de quatorze irmãos, Nelson Rodrigues mudou-se para o Rio de Janeiro ainda criança, onde viveria por toda sua vida. Seu pai, o ex-deputado federal e jornalista Mário Rodrigues, perseguido politicamente, resolveu estabelecer-se na então capital federal em julho de 1916, empregando-se no jornal Correio da Manhã, de propriedade de Edmundo Bittencourt.
Segundo o próprio Nelson em suas Memórias, seu grande laboratório e inspiração foi a infância vivida na Zona Norte da cidade. Dos anos passados numa casa simples na rua Alegre, 135 (atual rua Almirante João Cândido Brasil), no bairro de Aldeia Campista, saíram para suas crônicas e peças teatrais as situações provocadas pela moral vigente na classe média dos primeiros anos do século XXe suas tensões morais e materiais.
Sua infância foi marcada por este clima e pela personalidade do garoto Nelson. Retraído, era um leitor compulsivo de livros românticos do século XIX. Nesta época ocorreu também para Nelson a descoberta do futebol, uma paixão que conservaria por toda a vida e que lhe marcaria o estilo literário.
Na década de 1920, Mário Rodrigues fundou o jornal A Manhã, após romper com Edmundo Bittencourt. Seria no jornal do pai que Nélson começaria sua carreira jornalística, na seção de polícia, com apenas treze anos de idade. Os relatos de crimes passionais e pactos de morte entre casais apaixonados incendiavam a imaginação do adolescente romântico, que utilizaria muitas das histórias reais que cobria em suas crônicas futuras. Neste período a família Rodrigues conseguiria atingir uma situação financeira confortável, mudando-se para o bairro de Copacabana, então um arrabalde luxuoso da orla carioca.
Apesar da bonança, Mário Rodrigues perderia o controle acionário de A Manhã para o sócio. Mas, em 1928, com o providencial auxílio financeiro do vice-presidente Fernando de Melo Viana, Mário fundou o diário Crítica.
Como cronista esportivo, Nelson escreveu textos antológicos sobre o Fluminense Football Club, clube para o qual torcia fervorosamente.[2] A maioria dos textos eram publicados no Jornal dos Sports. Junto com seu irmão, o jornalista Mário Filho, Nelson foi fundamental para que os Fla-Flu tivessem conquistado o prestígio que conquistaram e se tornassem grandes clássicos do futebol brasileiro. Nelson Rodrigues criou e evocava personagens fictícios como Gravatinha e Sobrenatural de Almeida para elaborar textos a respeito dos acontecimentos esportivos relacionados ao clube do coração.
Adolescência e juventude
Nelson seguiu os seus irmãos Mílton, Mário Filho e Roberto integrando a redação do novo jornal. Ali continuou a escrever na página de polícia, enquanto Mário Filho cuidava dos esportes e Roberto, um talentoso desenhista, fazia as ilustrações. Crítica era um sucesso de vendas, misturando uma cobertura política apaixonada com o relato sensacionalista de crimes. Mas o jornal existiria por pouco tempo. Em 26 de dezembro de 1929, a primeira página de Crítica trouxe o relato da separação do casal Sylvia Serafim e João Thibau, Jr. Ilustrada por Roberto e assinada pelo repórter Orestes Barbosa, a matéria provocou uma tragédia. Sylvia, a esposa que se desquitara do marido e cujo nome fora exposto na reportagem invadiu a redação de Crítica e atirou em Roberto com uma arma comprada naquele dia. Nelson testemunhou o crime e a agonia do irmão, que morreu dias depois.
Mário Rodrigues, deprimido com a perda do filho, faleceu poucos meses depois. Sylvia, apoiada pelas sufragistas e por boa parte da imprensa concorrente de Crítica, foi absolvida do crime. Finalmente, durante a Revolução de 30, a gráfica e a redação de Crítica são empastelados e o jornal deixa de existir. Sem seu chefe e sem fonte de sustento, a família Rodrigues mergulha em decadência financeira.
Foram anos de fome e dificuldades para todos. Pouco afinados com o novo regime, os Rodrigues demorariam anos para se recuperarem dos prejuízos causados pela tuberculose.
Ajudado por Mário Filho, amigo de Roberto Marinho, Nélson passa a trabalhar no jornal O Globo, sem salário. Apenas em 1932 é que Nélson seria efetivado como repórter no jornal. Pouco tempo depois, Nelson descobriu-se tuberculoso. Para tratar-se, retira-se do Rio de Janeiro e passa longas temporadas em um sanatório na cidade de Campos do Jordão. Seu tratamento é custeado por Marinho, que conquistou a gratidão de Nélson pelo resto de sua vida. Recuperado, Nelson volta ao Rio e assume a seção cultural de O Globo, fazendo a crítica de ópera.
No O Globo, foi editor do suplemente O Globo Juvenil, além de editar Nelson roteirizou algumas história em quadrinhos para o suplemento, dentre elas uma versão de O fantasma de Canterville deOscar Wilde[3].
Em 1940 casou-se com Elza Bretanha, sua colega de redação.
A partir da década de 1940, Nelson divide-se entre o emprego em O Globo e a elaboração de peças teatrais. Em 1941 escreve A mulher sem pecado, que estreou sem sucesso. Pouco tempo depois assina a revolucionária Vestido de noiva, peça dirigida por Zbigniew Ziembiński e que estreou no Teatro Municipal do Rio de Janeiro com estrondoso sucesso.
O teatrólogo Nelson Rodrigues seria o criador de uma sintaxe toda particular e inédita nos palcos brasileiros. Suas personagens trouxeram para a ribalta expressões tipicamente cariocas e gírias da época, como "batata!" e "você é cacete, mesmo!". Vestido de noiva é considerada até hoje como o marco inicial do moderno teatro brasileiro.
Maturidade
Em 1945 abandona O Globo e passa a trabalhar nos Diários Associados. Em O Jornal, um dos veículos de propriedade de Assis Chateaubriand, começa a escrever seu primeiro folhetim, Meu destino é pecar, assinado pelo pseudônimo "Susana Flag". O sucesso do folhetim alavancou as vendas de O Jornal e estimulou Nelson a escrever sua terceira peça, Álbum de família.
Em fevereiro de 1946, o texto da peça foi submetido à Censura Federal e proibido. Álbum de família só seria liberada em 1965. Em abril de 1948 estreou Anjo negro, peça que possibilitou a Nelson adquirir uma casa no bairro do Andaraí e em 1949 Nelson lançou Doroteia.
Em 1950 passa a trabalhar no jornal de Samuel Wainer, a Última Hora. No jornal, Nélson começa a escrever as crônicas de A vida como ela é, seu maior sucesso jornalístico. Na década seguinte, Nelson passa a trabalhar na recém-fundada TV Globo, participando da bancada da Grande Resenha Esportiva Facit, a primeira "mesa-redonda" sobre futebol da televisão brasileira e, em 1967, passa a publicar suas Memórias no mesmo jornal Correio da Manhã onde seu pai trabalhou cinquenta anos antes.
O fim
Nos anos 70, consagrado como jornalista e teatrólogo, a saúde de Nélson começa a decair, por causa de problemas gastroenteorológicos e cardíacos de que era portador. O período coincide com os anos da ditadura militar, que Nelson sempre apoiou. Entretanto, seu filho Nelson Rodrigues Filho torna-se guerrilheiro e se passa para a clandestinidade. Neste período também aconteceu o fim de seu casamento com Elza e o início do relacionamento com Lúcia Cruz Lima, com quem teria uma filha, Daniela, nascida com problemas mentais. Depois do término do relacionamento com Lúcia, Nelson ainda manteria um rápido casamento com sua secretária Helena Maria, antes de reatar seu casamento com Elza.
Nelson faleceu numa manhã de domingo, em 1980, aos 68 anos de idade, de complicações cardíacas e respiratórias. Foi enterrado no Cemitério São João Batista, em Botafogo. No fim da tarde daquele mesmo dia ele faria treze pontos na Loteria Esportiva, num "bolão" com seu irmão Augusto e alguns amigos de "O Globo". Dois meses depois, Elza atendia ao pedido do marido — de, ainda em vida, gravar o seu nome ao lado do dele na lápide de seu túmulo, sob a inscrição: "Unidos para além da vida e da morte. E é só".
Obras
Características da obra
O teatro entrou na vida de Nelson Rodrigues por acaso. Uma vez que se encontrava em dificuldades financeiras, achou no teatro uma possibilidade de sair da situação difícil em que estava. Assim, escreveu "A mulher sem pecado…", sua primeira peça. Segundo algumas fontes, Nelson tinha o romance como gênero literário predileto, e suas peças seguiram essa predileção, pois as mesmas são como romances em forma de texto teatral. Nelson é um originalíssimo realista. Não é à toa que foi considerado um novo Eça. De fato, a prosa de Nelson era realista e, tal como os realistas do século XIX, ele criticou a sociedade e suas instituições, sobretudo o casamento.
Sendo esteticamente realista em pleno Modernismo, Nelson não deixou de inovar tal como fizeram os modernos. O autor transpôs a tragédia grega para o sociedade carioca do início do século XX, e dessa transposição surgiu a "tragédia carioca", com as mesmas regras daquela, mas com um tom contemporâneo. O erotismo está muito presente na obra de Nelson Rodrigues, o que lhe garante o título de realista. Nelson não hesitou em denunciar a sordidez da sociedade tal como o fez Eça de Queirós em suas obras. Esse erotismo realista de Nelson teve sua gênese em obras do século XIX, como "O Primo Basílio", e se desenvolveu grandemente na obra do autor pernambucano. Em síntese, Nelson foi um grande escritor, dramaturgo e cronista, e está imortalizado na literatura brasileira.
Acervo
O Cedoc – Centro de Documentação da Funarte possui amplo acervo sobre o dramaturgo, como fotos de peças, programas das produções teatrais, resenhas e comentários sobre espetáculos teatrais, entre eles Vestido de Noiva, encenado pela primeira vez para um Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Boa parte dos registros fotográficos de peças do dramaturgo existentes no Cedoc foram feitos pelo Estúdio Foto Carlos, que, nas décadas de 40, 50, 60, 70 e 80 e foram digitalizadas graças ao projeto Brasil Memória das Artes, incluindo registros de raridades, como uma participação de Nelson Rodrigues como ator. No Portal da Funarte ainda é possível ver vídeos produzidos sobre o dramaturgo e sua obra.
Teatro
Nélson Rodrigues escreveu dezessete peças teatrais. Sua edição completa abrange quatro volumes, divididos segundo critérios do crítico Sábato Magaldi, que agrupou as obras de acordo com suas características, dividindo-as em três grupos: Peças psicológicas, Peças míticas e Tragédias cariocas. Assim, as peças seguem o plano de publicação:
Peças psicológicas
 A mulher sem pecado
 Vestido de noiva
 Valsa nº 6
 Viúva, porém honesta
 Anti-Nélson Rodrigues
Peças míticas
 Álbum de família
 Anjo negro
 Senhora dos Afogados
 Doroteia
Tragédias Cariocas I
 A falecida
 Perdoa-me por me traíres
 Os Sete Gatinhos
 Boca de ouro
Tragédias Cariocas II
 O beijo no asfalto
 Bonitinha, mas ordinária ou Otto Lara Rezende
 Toda Nudez Será Castigada
 A serpente
Ordem cronológica
Estreias das peças (todas no Rio de Janeiro)
 A mulher sem pecado - 1941 - Direção: Rodolfo Mayer
 Vestido de noiva - 1943 - Direção: Zbigniew Ziembiński
 Álbum de família - 1946 - Direção: Kleber Santos
 Anjo negro - 1947 - Direção: Zbigniew Ziembiński
 Senhora dos Afogados - 1947 - Direção: Bibi Ferreira
 Doroteia - 1949 - Direção: Zbigniew Ziembiński
 Valsa nº 6 - 1951 - Direção: Milton Rodrigues
 A falecida - 1953 - Direção: José Maria Monteiro
 Perdoa-me por me traíres - 1957 - Direção: Léo Júsi
 Viúva, porém honesta - 1957 - Direção: Willy Keller
 Os sete gatinhos - 1958 - Direção: Willy Keller
 Boca de ouro - 1959 - Direção: José Renato
 O beijo no asfalto - 1960 - Direção: Fernando Torres
 Bonitinha, mas ordinária - 1962 - Direção Martim Gonçalves
 Toda nudez será castigada - 1965 - Direção: Zbigniew Ziembiński
 Anti-Nélson Rodrigues - 1974 - Direção: Paulo César Pereio
 A serpente - 1978 - Direção: Marcos Flaksman
Romances
 Meu destino é pecar - 1944
 Escravas do amor - 1944
 Minha vida - 1944
 Núpcias de fogo - 1948
 A mulher que amou demais - 1949
 O homem proibido - 1959
 A mentira - 1953
 Asfalto selvagem - 1959 (também conhecido como Engraçadinha)
 O casamento - 1966
Contos
 Cem contos escolhidos - A vida como ela é... - 1972
 Elas gostam de apanhar - 1974
 A vida como ela é — O homem fiel e outros contos - 1992
 A dama do lotação e outros contos e crônicas - 1992
 A coroa de orquídeas - 1992
Crônicas
 Memórias de Nélson Rodrigues - 1967
 O óbvio ululante: primeiras confissões - 1968
 A cabra vadia - 1970
 O reacionário: memórias e confissões - 1977
 Fla-Flu...e as multidões despertaram - 1987
 O remador de Ben-Hur - 1992
 A cabra vadia - Novas confissões - 1992
 A pátria sem chuteiras - Novas Crônicas de Futebol - 1992
 A menina sem estrela - memórias - 1992
 À sombra das chuteiras imortais - Crônicas de Futebol - 1992
 A mulher do próximo - 1992
 Nélson Rodrigues, o Profeta Tricolor - 2002
 O Berro impresso nas Manchetes - 2007
Telenovelas
Baseadas na obra de Nélson Rodrigues
 A morta sem espelho - TV Rio - 1963
 Sonho de amor - TV Rio - 1964
 O desconhecido - TV Rio - 1964
 O homem proibido - TV Globo - 1982
 Meu Destino É Pecar - TV Globo - 1984
 Engraçadinha... Seus Amores e Seus Pecados - TV Globo - 1995
 A Vida Como Ela É - TV Globo - 1996
Filmes
Baseados na obra de Nélson Rodrigues
 Somos dois - 1950 - Direção: Milton Rodrigues
 Meu destino é pecar - 1952 - Direção: Manuel Pelufo
 Mulheres e milhões - 1961 - Direção: Jorge Ileli
 Boca de ouro - 1963 - Direção: Nelson Pereira dos Santos
 Meu nome é Pelé - 1963 - Direção: Carlos Hugo Christensen
 Bonitinha mas ordinária - 1963 - Direção: J.P. de Carvalho
 Asfalto selvagem - 1964 - Direção: J.B. Tanko
 A falecida - 1965 - Direção: Leon Hirzman
 O beijo - 1966 - Direção: Flávio Tambellini
 Engraçadinha depois dos trinta - 1966 - Direção: J.B. Tanko
 Toda nudez será castigada - 1973 - Direção: Arnaldo Jabor
 O casamento - 1975 - Direção: Arnaldo Jabor
 A dama do lotação - 1978 - Direção: Neville d'Almeida
 Os sete gatinhos - 1980 - Direção: Neville d'Almeida
 O beijo no asfalto - 1980 - Direção: Bruno Barreto
 Bonitinha mas Ordinária ou Otto Lara Rezende - 1981 - Direção: Braz Chediak
 Álbum de família - 1981 - Direção: Braz Chediak
 Engraçadinha - 1981 - Direção: Haroldo Marinho Barbosa
 Perdoa-me por me traíres - 1983 - Direção: Braz Chediak
 Boca de ouro - 1990 - Direção: Walter Avancini
 Traição - 1998 - Direcão: Arthur Fontes, Cláudio Torres e José Henrique Fonseca
 Gêmeas - 1999 - Direção: Andrucha Waddington
 Vestido de noiva - 2006 - Direção de Joffre Rodrigues
 Bonitinha mas Ordinária ou Otto Lara Rezende - 2009

Teatro do Brasil



O teatro em terras brasileiras nasce em meados do século XVI como instrumento de catequese dos Jesuítas vindos de Coimbra como missionários. Era um teatro, portanto, com função religiosa e objetivos claros: evangelizar os índios e apaziguar os conflitos existentes entre eles e os colonos portugueses e espanhóis.
O primeiro grupo de Jesuítas a desembarcar na Bahia de Todos os Santos, em 1549, era composto por quatro religiosos da comitiva de Tomé de Sousa, entre os quais o padre Manuel da Nóbrega. O segundo grupo de missionários chegou à então Província do Brasil no dia 13 de julho de 1553, como parte da comitiva de Duarte da Costa. No grupo de quatro religiosos estava o jovem José de Anchieta (1534-1597), então com dezenove anos de idade.
A população estimada de 57 mil habitantes era composta por colonos, muitos deles criminosos, e índios em sua maioria de vida nômade. Os jesuítas mantinham os indígenas em pequenas aldeias, isolados de dois terríveis perigos: a vida desregrada e a escravidão impostas pelo homem branco explorador e o conseqüente retorno ao paganismo.
A tradição teatral jesuítica encontrou no gosto dos índios pela dança e pelo canto um solo fértil e os religiosos passaram a se valer dos hábitos e costumes dos silvícolas - máscaras, arte plumária, instrumentos musicais primitivos - para as suas produções com finalidades catequéticas.
Tematicamente, essas produções mesclavam a realidade local (tanto de índios quanto dos colonos) com narrativas hagiográficas (vidas dos santos). Como toda espécie de dominação cultural prescinde um conhecimento da cultura do dominado, o Padre Anchieta seguiu o preceito da Companhia de Jesus que determinava ao jesuíta o aprendizado da língua onde mantivessem missões. Assim, foi incumbido de organizar uma gramática da língua tupi, o que fez com sucesso.
[editar]Dramaturgia de catequese


Entrada do teatro universitário da UFMG, em Belo Horizonte.
Há notícia de 25 obras teatrais, todas de tradição medieval com forte influência do teatro de Gil Vicente em sua forma e conteúdo, produzidas nos últimos 50 anos do século XVI. O gênero predominante é o auto e alguns deles não têm autoria comprovada; muitos outros, como se sabe, são atribuídos ao padre Anchieta (por vezes contando com a colaboração do padre Manuel da Nóbrega). De algumas dessas obras têm-se apenas o título, são elas:
1557 Diálogo, Conversão do Gentio - padre Manuel da Nóbrega.
1564 Auto de Santiago - representado em Santiago da Bahia.
1567-70 Auto da Pregação Universal - padre José de Anchieta - representada em São Vicente e São Paulo de Piratininga.
1573 Diálogo - representado em Pernambuco e na Bahia.
1574 Diálogo - representado na Bahia.
1574 Écloga Pastoril - representado em Pernambuco.
1575 História do Rico Avarento e Lázaro Pobre - representado em Olinda, padre
1576 Écloga Pastoril - representado em Pernambuco.
1578 Tragicomédia - representada na Bahia.
1578 Auto do Crisma - padre José de Anchieta - representada no Rio de Janeiro
1583 Auto de São Sebastião - representado no Rio de Janeiro.
1583 Auto Pastoril - representado no Espírito Santo.
1583 Auto das Onze Mil Virgens - representado na Bahia
1584 Diálogo da Ave Maria - representado no Espírito Santo
1584 Diálogo Pastoril - representado no Espírito Santo
1584 Auto de São Sebastião - representado no Rio de Janeiro
1584 Auto de Santa Úrsula - padre José de Anchieta - representado no Rio de Janeiro
1584 Diálogo - representado em Pernambuco
1584 Na Festa do Natal - padre José de Anchieta
1586 Auto da Vila da Vitória ou de São Maurício - padre José de Anchieta - representado em Vitória (ES)
1586 Na Festa de São Lourenço ou Auto de São Lourenço - padre José de Anchieta
1587 Recebimento que Fizeram os Índios de Guaraparim - padre José de Anchieta - representado em Guarapari (ES)
1589 Assuerus - representado na Bahia.
1596 Espetáculos - representado em Pernambuco
1598 Na visitação de Santa Isabel - padre José de Anchieta
Os espetáculos tinham como elenco os índios catequizados e eram apresentados, na maioria das vezes, ao ar livre – alguns deles tendo a selva por cenário; noutros, ao estilo do teatro medieval, nos átrios das pequenas igrejas.
De todos, o espetáculo mais grandioso foi do "Auto das Onze Mil Virgens", em maio de 1583, em honra aos padres Cardim e Gouveia e que contou com a participação de todo o povo da Bahia. Este auto, que era uma tragicomédia inspirada na vida de Santa Úrsula e na lenda das onze mil virgens, foi representada cinco vezes entre os anos de 1582 e 1605.
O pesquisador Mario Cacciaglia em sua "Pequena História do Teatro Brasileiro" faz uma rica descrição do que teria sido a primeira apresentação (1583), que ele adjetiva como espetacular, como segue: "...depois da missa, com acompanhamento de um coro de índios, com flautas e, da capela da Catedral, com órgãos e cravos, teve início uma procissão de estudantes precedida pelos vereadores e pelos sobrinhos ou netos do governador; os estudantes carregavam três cabeças de virgens cobertas por um pálio e puxavam sobre rodas uma esplêndida nau sobre a qual eram levadas em triunfo as virgens mártires (estudantes travestidos), enquanto da própria nau eram feitos disparos de arcabuz. De vez em quando, durante o percurso, falavam das janelas personagens alegóricas, em esplêndidos costumes: a cidade, o próprio colégio e alguns anjos. À noite foi celebrado na nau o martírio das virgens, com o aparato cênico de uma nuvem que descia do céu e dos anjos que chegavam para sepultar as mártires."
Outras narrativas chegam até nós, algumas envolvendo embarcações, salvas de arcabuzes, uivos e gritos de índios, flautas e percussões; todas elas assistidas pelos colonos, pelos índios e, claro, pelas autoridades locais, todos chegando às lágrimas ante os dramas encenados por vezes nos adros das igrejas, noutras em anfiteatros montados no entorno dos templos.
[editar]Teatro Anchietano
Como se sabe, os únicos textos de toda essa produção chegados aos nossos dias são de autoria do Pe. José de Anchieta, graças ao seu processo de beatificação iniciado em 1736.
Considerado por Sábato Magaldi "o texto mais complexo e digno de interesse" de toda a obra do missionário, o Auto de São Lourenço ou Na Festa de S. Lourenço é uma peça trilíngüe que teve sua primeira representação na cidade de Niterói em 1583. O texto é rico em personagens e situações dramáticas, envolvendo canto, luta e dança para narrar o martírio do santo. Há muitos aspectos que denotam a inteligência do missionário ao urdir a trama, mas é digno de nota o artifício de substituit o tradicional mecanismo do sincretismo religioso por um outro que poderíamos classificar de sincretismo demonológico. Assim, Anchieta aproxima os demônios da igreja católica dos demônios familiares aos índios (Guaixará, Aimberê e Saravaia) - nomes tomados dos índios Tamoios que se uniram aos invasores franceses, forma também de criticar a situação política do momento. Os demônios advogam pelos terríveis hábitos dos índios: o cauim, o fumo, o curandeirismo e a poligamia. O texto, trilíngüe, visa dialogar com índios, portugueses e espanhóis.
Outro texto do Padre Anchieta, Na Festa de Natal, é uma releitura do Auto de S. Lourenço, com menos personagens e cenas. Neste caso, os demônios dificultam os Reis Magos a encontrarem a manjedoura onde se encontra o Salvador. Este auto é em sua maioria escrito em Tupi, por razões óbvias de catequese.
Já o drama Na Vila de Vitória foi representado, como de hábito, no adro da Igreja de São Tiago por ocasião da chegada de um grupo de missionários europeus com destino ao Paraguai. Por esse motivo, a peça parece estar dirigida a um público feito exclusivamente de colonos, uma vez que faz muitas referências a acontecimentos então recentes das sociedades portuguesa e espanhola, além de mencionar os conflitos envolvendo colonos e índios. A apresentação tinha, em seus três atos, ações bastante complicadas decorrentes do fato de ser crivada de personagens alegóricas: o Mundo e a Carne (dois demônios, respectivamente), a Cidade de Vitória (uma nobre dama), o Governo (um senhor muito digno), a Ingratidão (uma bruxa), o Amor a Deus, o Temor a Deus, São Vitor e o Embaixador do Prata (cujo objetivo era levar as relíquias de São Maurício, cujo martírio é narrado na encenação).
Em Recebimento que fizeram os índios de Guaraparim ao Padre Provincial Marçal Beliarte, Anchieta cria divertidos diálogos entre demônios que prometem levar muitos pecadores locais para os infernos, além de cânticos de arrependimento dos indígenas que um dia foram antropófagos.
Na visitação de Santa Isabel, considerada última obra do jesuíta, é um diálogo em espanhol que narra o encontro da Virgem Maria com sua prima, Isabel (mãe de São João Batista). Finalizada por uma procissão solene, a encenação era para celebrar a construção de uma Santa Casa de Misericórdia, com data e local de representação obscuros.